Crónicas de Ariana

«Se não houver frutos, valeu a beleza das flores... Se não houver flores, valeu a sombra das folhas... Se não houver folhas, valeu a intenção da semente...» Henfil

25 janeiro 2006

Como explicar o amor...

Numa das minhas pesquisas na net, encontrei este texto... gostaria de partilhá-lo convosco!



Um dia reuniram-se os sentimentos e as qualidades dos Homens num lugar da Terra.
Quando o Aborrecimento reclamou pela terceira vez, a Loucura, como sempre, tão louca, lhes propôs:
- Vamos brincar às “escondidas”?
A Intriga levantou a sobrancelha, intrigada, e a Curiosidade, sem poder conter-se, perguntou: Às escondidas? Como é isso?
- É um jogo - explicou a Loucura - em que eu fecho os olhos e começo a contar de um a um milhão enquanto vocês se escondem, e quando eu tiver terminado de contar, o primeiro que eu encontrar ocupará o meu lugar para continuar o jogo.
O Entusiasmo dançou seguido pela Euforia.
A Alegria deu tantos saltos que acabou por convencer a Dúvida e até mesmo a Apatia, que nunca se interessava por nada.
Mas nem todos quiseram participar…
A Verdade preferiu não se esconder. Para quê? Se no final todos a encontravam?
A Soberba referiu que era um jogo muito tonto (no fundo o que a incomodava era que a ideia não tivesse sido dela) e a Covardia preferiu não arriscar.
- Um, dois, três, quatro... - começou a contar a Loucura.
A primeira a esconder-se foi a Pressa, que como sempre caiu atrás da primeira pedra do caminho!
A Fé subiu ao céu e a Inveja escondeu-se atrás da sombra do Triunfo, que com o seu próprio esforço, tinha conseguido subir à copa da árvore mais alta.
A Generosidade quase não conseguia esconder-se, porque cada local que encontrava lhe parecia maravilhoso para algum dos seus amigos - se era um lago cristalino, ideal para a Beleza; se era a copa de uma árvore, perfeito para a Timidez; se era o voo de uma borboleta, o melhor para a Volúpia; se era uma rajada de vento, magnífico para a Liberdade. E assim, acabou por se esconder num raio de sol.
O Egoísmo, ao contrário, encontrou um local muito bom desde o início. Ventilado, cómodo, mas apenas para ele.
A Mentira escondeu-se no fundo do oceano (mentira! Na realidade, escondeu-se atrás do arco-íris) e a Paixão e o Desejo no centro dos vulcões.
O Esquecimento, não se recorda onde se escondeu, mas isso não é o mais importante.
Quando à Loucura estava já no 999 999!
O Amor ainda não tinha encontrado um local para se esconder, pois todos já estavam ocupados, até que encontrou um roseiral e, carinhosamente, decidiu esconder-se entre as suas flores.
- Um milhão - contou a Loucura, e começou a procurar.
A primeira a aparecer foi a Pressa, apenas a três passos de uma pedra. Depois, escutou-se a Fé a discutir com Deus no céu sobre zoologia.
Sentiu-se vibrar a Paixão e o Desejo nos vulcões.
Num descuido encontrou a Inveja e, claro, pôde deduzir onde estava o Triunfo.
O Egoísmo, nem teve que procurar, porque ele, sozinho, saiu disparado do seu esconderijo, que na verdade era um ninho de vespas.
De tanto caminhar, a Loucura sentiu sede e, ao aproximar-se de um lago, descobriu a Beleza.
A Dúvida foi mais fácil ainda, porque a encontrou sentada sobre uma cerca sem decidir de que lado esconder-se.
E assim os foi encontrando a todos…
O Talento entre a erva fresca. A Angústia numa cova escura.
A Mentira atrás do arco-íris (mentira! Estava no fundo do oceano.) e até o Esquecimento, que já tinha esquecido que estava a brincar às escondidas.
Apenas o Amor não aparecia em nenhum local!
A Loucura procurou atrás de cada árvore, debaixo de todas as rochas do planeta e em cima das montanhas. Quando estava a ponto de dar-se por vencida, encontrou um roseiral. Pegou uma forquilha e começou a mover os ramos, quando no mesmo instante, escutou-se um doloroso grito. Os espinhos tinham ferido o Amor nos olhos!
A Loucura não sabia o que fazer para se desculpar: chorou, rezou, implorou, pediu perdão e até prometeu ser a sua guia.
Desde então, desde que pela primeira vez se brincou às escondidas na Terra: o Amor é cego e a Loucura sempre o acompanha.

7 Comments:

  • At quarta-feira, 25 janeiro, 2006, Blogger Alex said…

    ai ai...
    Amor também é suspiro
    :-)

    Desculpe. Comentei, mas não lí. Há dias que não tenho pachora para ler.
    Mas, se não se importar, voltarei mais tarde quando tiver mais tempo e inspiração.
    Até breve

     
  • At quarta-feira, 25 janeiro, 2006, Blogger Ana said…

    Eu apenas comecei a ler o texto e reconheci logo a história, é que esta já me passou pelo e-mail!
    É mesmo bonita não é, é que apesar de tudo mostra-nos que há coisas boas na vida!

     
  • At quarta-feira, 25 janeiro, 2006, Blogger JL said…

    Da leitura que fiz do texto, veio-me à memória que os espinhos têm rosas. E ainda bem.

     
  • At sexta-feira, 27 janeiro, 2006, Blogger José Miguel Marques said…

    um texto magnifico, digo mesmo espectacular. depois de uma semana demasiado stressante, fatigante e absorvente, este texto transmitiu-me paz de espirito. gostei imenso.
    João Lopes se é verdade que os espinhos têm rosas, também é verdade o inverso e também nesse aspecto ainda bem

     
  • At sexta-feira, 27 janeiro, 2006, Blogger Anna72 said…

    Nada melhor que um excelente texto para terminar a semana! Gostei muito.

     
  • At sábado, 28 janeiro, 2006, Blogger Zel said…

    "O Amor é cego e a Loucura sempre o acompanha": Esta frase final diz tudo.
    Quando perdemos o entusiasmo pelas "coisas " estamos velhos......pessoal toca amar...viva a loucura. ......rsssss

     
  • At segunda-feira, 30 janeiro, 2006, Blogger Unknown said…

    Ai ai, eu ainda ando a jogar às escondidas … mas não me importo!
    Gostei

    Abraços

     

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