Crónicas de Ariana

«Se não houver frutos, valeu a beleza das flores... Se não houver flores, valeu a sombra das folhas... Se não houver folhas, valeu a intenção da semente...» Henfil

07 janeiro 2006

Como sobreviver na nossa infância!

Se foste criança nos anos 60, 70 ou princípio dos anos 80… Como fizeste para sobreviver?

De crianças andávamos em automóveis que não tinham cintos de segurança, nem airbag…
Ir na parte de trás de uma carrinha era um passeio especial que ainda hoje recordamos.
As nossas camas estavam pintadas com cores brilhantes de pinturas com produtos tóxicos.
Não tínhamos tampas especiais nas garrafas de detergente ou nas embalagens de medicamentos.
Quando andávamos de bicicleta não usávamos capacete.
Bebíamos água da torneira e não de uma garrafa de água mineral.
Gastávamos horas e horas a construir os nossos carros e nas estradas inclinadas percebíamos que não tínhamos travões.
Depois de vários choques contra algumas árvores aprendemos a resolver o problema.
Nós raramente chocávamos com automóveis!Saíamos para brincar com a única condição de regressarmos antes de anoitecer.
A escola durava até ao meio-dia.
Chegávamos a casa para almoçar e depois voltávamos para a escola.
Não tínhamos telemóvel, por isso ninguém podia localizar-nos. Impensável!
Quando nos cortávamos, partíamos uma perna ou um braço ou perdíamos um dente nunca ninguém reclamava por isso.
Ninguém era culpado a não ser nós mesmos.
Comíamos biscoitos, pão e manteiga, ingeríamos bebidas com açúcar e nunca tínhamos excesso de peso, porque andávamos sempre em movimento a gastar energias…
Partilhávamos uma bebida… bebíamos da mesma garrafa e ninguém morria por isso.Não tínhamos playstations, nintendo, X-boxes, jogos de vídeo, 99 canais de televisão, videogravadores, equipas de som, telemóveis pessoais, computadores, chatroms na Internet… mas TÍNHAMOS AMIGOS.
Saíamos, andávamos de bicicleta e caminhávamos até a casa de um amigo. Entrávamos sem tocar e saíamos para jogar.
Lá fora! Nesse mundo terrível! Sem nenhum guardião! Como fazíamos? Formávamos grupos para jogar à bola; nem todos eram eleitos e nem por isso ficavam traumatizados.
Alguns estudantes não eram tão brilhantes como outros e quando perdiam um ano, repetiam. Ninguém ía ao psicólogo, ao psicopedagogo, ninguém tinha dislexia, nem problemas de atenção, nem hiperactividade, simplesmente repetiam o ano e tinham uma segunda oportunidade.
Tínhamos liberdade, fracassos, êxitos, responsabilidades e aprendemos a geri-los.
A grande pergunta é: como fizemos para sobreviver? E sobretudo, como fizemos para ser as grandes pessoas que somos agora?

Tu és dessa geração? Então, foste SUPER FELIZ!

23 Comments:

  • At sábado, 07 janeiro, 2006, Blogger Amaral said…

    Oi, Ariana. Que post extraordinário este! Fizeste-me dar meia volta no caminho da vida, e repisar as pedras e a terra das estradas.
    Que fiz eu para sobreviver? Mas, é exactamente como dizes. FUI SUPER FELIZ!
    E mais: atapetei os caminhos com coloridos de sonho, compuz puzzles de encantar e enchi bornais de esperança e de amor… Só isso!

     
  • At sábado, 07 janeiro, 2006, Anonymous Anónimo said…

    Lindoe e por hoje apenas as Boas vindas

     
  • At sábado, 07 janeiro, 2006, Blogger Blogexiste said…

    Essa é que é essa. Sobrevivemos!

     
  • At sábado, 07 janeiro, 2006, Blogger sattelite said…

    Uma só palavra...sem palavras, é fantástico. Tenho saudades dessa infância!!!

     
  • At sábado, 07 janeiro, 2006, Blogger Agnelo Figueiredo said…

    Olá!
    É verdade que sobrevivíamos e até dávamos mais valor àquilo que conseguíamos alcançar.
    Mas depois, paulatinamente, enveredámos pelo paradigma do Estado paternalista que, responsabilizando-se por tudo, a todos desresponsabiliza. E... cá estamos!
    Bons posts.

     
  • At sábado, 07 janeiro, 2006, Anonymous Anónimo said…

    Tá giro. Espero que continues assim!

     
  • At sábado, 07 janeiro, 2006, Blogger margarida said…

    Olá Ariana:
    vim cá agradecer-te a visita ao meu blog e achei o teu post extraordinário! Eu sou desse tempo em que brincávamos na rua até ao anoitecer. E que saudades que eu tenho daqueles fins de tarde de Verão!
    O problema é que agora não deixamos os nossos filhos irem a pé para a escola por poderem ser atropelados (o pior que podia acontecer no meu tempo) mas por medo de alguém os apanhar e levar. Em tão pouco tempo tanta coisa mudou. :-(

    Bjinhos, prometo que volto cá

     
  • At domingo, 08 janeiro, 2006, Blogger Unknown said…

    Não arranjo explicação!

    Foi muito bom, É muito bom recordar.

    Saia de casa, brincava com os meus irmão, sobrinhas, vizinhos. As casinhas e os brinquedos que construíamos … as voltas de bicicleta e as correrias. Subir e saltar penedos era uma paixão.
    Naquele paraíso, que conhecia e conheço como as palmas da minha mão, não tinha buraco de grilo que não fosse explorado, os de canto até eram marcados para não lhe perder o rasto, a água e a palhinha era essencial … na caixa de papelão juntávamos uma comunidade enorme de grilos cantantes!!!! Que festa.

    Naquela altura éramos muitos, a família cresceu, agora muitos mais, nunca o laço que sempre nos uniu se perdeu, espero nunca se vir a perder!

     
  • At domingo, 08 janeiro, 2006, Blogger sonia said…

    :)))

    ah pois é!
    fomos mto mto felizes :D

    obrigado por me fazeres sorrir.

     
  • At domingo, 08 janeiro, 2006, Blogger BlueShell said…

    Gosto deste blog....

    Bolas…tenho frio.Vou para a cama!
    Beijo, BShell

     
  • At domingo, 08 janeiro, 2006, Blogger Maria Garcia said…

    Antes de mais obrigada pela visita ;) quanto ao teu post, também passei por essa geração e sinceramente acho que em todas podemos ser felizes, assim estejamos rodeados de amor e carinho.

     
  • At domingo, 08 janeiro, 2006, Blogger Zel said…

    É verdade sobrevivemos, e o que mais recordo era a partilha e a ajuda que tínhamos, com tão pouco éramos tão grandes.....

     
  • At segunda-feira, 09 janeiro, 2006, Blogger Anna72 said…

    Obrigada pela visita ao meu mundo! A tua mensagem foi, provavelmente, o melhor elogio que recebi até hoje no mundo bloguista! Espero que voltes :)

    Eu tive a sorte de pertencer a essa geração em que o lema era "se não mata, engorda!" e, de facto eramos felizes... podíamos brincar na rua sem medos, faziamos tudo e mais alguma coisa e saíamos ilesos, só com uns arranhões... bons tempos!

    Beijocas

     
  • At segunda-feira, 09 janeiro, 2006, Blogger JL said…

    Em primeiro lugar quero agradecer-te a visita ao "O Observatório". A porta continua aberta e por isso aguardo mais vezes a tua visita. Eu farei o mesmo aqui.

    Este artigo transporta-nos ao velho baú de memórias e faz de nós autênticos heróis que, depois de ventos e tempestades, alcançámos terra firme.

     
  • At segunda-feira, 09 janeiro, 2006, Anonymous Anónimo said…

    um excelente texto, que não só faz recordar as melhores infâncias/adolescências vividas como nos faz perceber que os putos de agora nunca irão saber com quantos paus se faz uma canoa, porque para viajarem carregam em teclas, nunca vão contar as feridas nos joelhos pelas quedas de bicicletas porque se querem fazer exercicio ligam a televisão e a câmara e jogam vendo-se na televisão. ao ritmo de estupidificação que levamos brevemente a geração que desponta praticará sexo através de monitores e os filhos vêm em recipientes onde se coloca um 1/4l de água ou leite (conforme o gosto) e se leva 5 minutos ao microondas.
    Os meus parabéns pelo excelente texto

     
  • At segunda-feira, 09 janeiro, 2006, Blogger Ana said…

    A minha geração é mais recente que a tua, apesar disso não consigo deixar de tentar imaginar como era...
    Mas será que vale a pena lamentar essas diferenças? A evolução da vida é inevitável e apesar das coisas negativas que nos trouxe, também tem os seus aspectos positivos! Além disso nem toda a gente vivia feliz nessa epoca, é como hoje em dia, uns têm a vida mais facilitada que outros!

     
  • At segunda-feira, 09 janeiro, 2006, Anonymous Anónimo said…

    Bom eu não sou dessa geração, mas tive a sorte de crescer numa aldeia em que muitas dessas coisas eram possíveis.

     
  • At terça-feira, 10 janeiro, 2006, Blogger mourilho said…

    Ola Adriana e muito obrigado pela visita ao “Mourilho”.
    A nossa infância tem o dom de ignorar que um dia viveremos num mundo bem mais complicado do que o nosso pequeno mundinho.

     
  • At sábado, 14 janeiro, 2006, Blogger BlueShell said…

    Se o mundo acabasse hoje...que pessoa gostarias de ter a teu lado?

    BShell

     
  • At domingo, 15 janeiro, 2006, Blogger Agnelo Figueiredo said…

    Então quando é que escreve outra vez?

     
  • At sexta-feira, 20 janeiro, 2006, Blogger Grace said…

    Fui sim, super feliz. Agora sou super frustrada. A maior felicidade ficou mesmo para trás...

     
  • At quarta-feira, 25 janeiro, 2006, Anonymous Anónimo said…

    Só cheguei hoje a este mundo dos blogs, gostei do teu!
    Simplesmente magnifica, a história da nossa infancia, sem medos nem receios...no entanto de que valeu...faltavam os pais atentos de hoje...

     
  • At sexta-feira, 17 março, 2006, Anonymous Anónimo said…

    Adorei

     

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